2012/03/23

SEXTA DA RESENHA: A Batalha do Apocalipse

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Produzido pelo jornalista, professor e carioca Eduardo Spohr, “A Batalha do Apocalipse: Da Queda dos Anjos ao Crepúsculo do Mundo” é o seu romance de estreia. No topo dos mais vendidos do Brasil no ano de 2010, a obra foi posta à venda virtualmente em 2007 – chegando a ultrapassar o valor de 4 mil exemplares comercializados -, sendo relançada posteriormente pela editora Verus em 2010, a partir de onde já foram vendidos mais de 180 mil cópias. Lidando com um assunto à primeira vista delicado, o sucesso foi alcançado após a passagem de barreiras ditas outrora como intransponíveis, como o irônico preconceito para com escritores nacionais.

Fantasia misturada com tradição e mitos religiosos, sem esquecer-se da pitada essencial de ciência, o livro faz uma viagem por diversos períodos históricos, trazendo anjos e demônios, deuses e espíritos etéreos, sociedades e guerreiros, bruxos e feiticeiros, e revelando, sobretudo, narrativas que se dão às histórias de Ablon, o Anjo Renegado, expurgado do céu por não compactuar com as atrocidades do Arcanjo Miguel, o Príncipe dos Anjos, braço direito de Yahweh, ou, em sinônimo direto, Deus – que se mantêm adormecido até o fim dos tempos, para o juízo final, o maior e mais poderoso cataclismo já visto, que findará tudo e todos.

Uma das características marcantes do contista, como costuma se auto classificar, é o uso perene e fundamental de flashabacks, os quais se transformam no meio mais enérgico de apresentar ao leitor as minúcias que circunda a produção, manifestando segredos antes obscuros no transcorrer dos fatos. Através destes, é possível vislumbrar, mediante suas palavras, lugares e monumentos extraordinários – como a Torre de Babel – e ter claramente, a visão característica de personagens intrínsecos e históricos, como o próprio Jesus Cristo.

Mostrando-se, assim, inerente e forte na concepção do seu universo ficcional, Spohr criou e redesenhou uma mitologia; castas de anjos e magias, particularidades inéditas não só na literatura fantástica brasileira, como também estrangeira no seu todo. O livro é dividido em três partes e a trama triunfal e épica, ainda que taxada aos olhos leigos como trivial e apelativa, se mostra impecável.

Quando o Altíssimo (Deus) descansou no sétimo dia após o firmamento, a eternidade assomou-se na data. E apenas quando chegasse o apocalipse, a batalha final entre o bem e o mal, Yahweh acordaria e daria fim à sociedade e à Terra conhecida. Enquanto o soberano continuava submergido no sono profundo, o Arcanjo Miguel, designado para manter a paz, tomado de inveja dos semelhantes de Deus, os seres humanos, deliberou destruí-los. Contando com a ajuda de uma horda de Arcanjos e Anjos de todas as castas, ele deu início à massacres contra a civilização humana, matando por meio de catástrofes – dilúvios –, pestilências e ações vis, cada homem vivente. Indignados com as atitudes de Miguel, anjos se rebelaram ao seu poderio e foram expulsos da camada celeste, inclusive Lúcifer, a Estrela da Manhã.

O personagem principal, Ablon, é um anjo caído. Na companhia da necromante e feiticeira Shamira, ambos viajam pelo mundo, em tênues passagens históricas (flashbacks); desde o ápice do Império Romano, à ruína de Atlântida. Nutrindo particular ódio por Miguel, Ablon anseia confrontar o Príncipe dos Arcanjos, para que seus ideais façam-se valer.

Com guerras, embates e lutas épicas, sem enfadonhas lições de moral, o carioca mostra toda a sua potencialidade – adquiridas nos seus anos como jogador de RPG, leituras e estudos em demasia -, prendendo o leitor em cada página, na busca incessante deste para ter ciência de como se desencadeará o temido e cogitado “fim do mundo”. O final, é claro, não conseguiu agradar à gregos e troianos, visto que a expectativa por uma data tão comentada e receada como esta gira em torno de controvérsias e detalhes provenientes da imaginação de cada um.

Expondo seu estilo singular como escritor, que intercala sem interferir no enredo o emprego da primeira e da terceira pessoa do singular e na abundância de adjetivos para designar e descrever lugares, pessoas e objetos, além de uma formalidade moderada, Spohr conseguiu manter-se totalmente fiel em sua escrita do início ao fim do romance, que de fato se mostrou muito pouco cansativo.

A julgar pelo número de páginas, consideravelmente alto, 586 num total, é certo que alguns leitores tenham desistido no meio do caminho. Mas sem dúvida, a maioria desses se manteve inabalável, guiando-se nessa fluida e envolvente narrativa.

Aconselho para todos que almejam se deliciar com uma leitura inteligente e instigante, que mostra vários aspectos da nossa sociedade, personagens metafóricos, crenças e mitos moldados para a ficção.

Espero que leiam como eu li e não me arrependo de ter lido as 586 pagínas desta obra épica.

creditos:up-brasil.

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